FERNANDO RODRÍGUES PEREIRA
MODELO COMUNICAÇAO
Portugal, há já algumas incorreu em três erros que hoje nos deixam hoje entre a espada e a parede. O primeiro erro é um caso típico do que é a procrastinação. “vem aí o digital… os novos media são o futuro…”. tanto tempo demorámos a discutir esses temas que não nos apercebemos que os novos media já não são novos. O presente é o digital! É a nossa realidade. Discutir o futuro foi a forma de não corrigirmos os erros “do” e “no” presente, de trilharmos caminhos.
O segundo foi confundirmos informação e jornalismo com modelo(s) de negócio(s). Novamente, muito se discutiu, muito se experimentou… jornalistas que se confundiram com gestores e vice-versa, comunicadores que se transformaram em opinion makers, fundos de investidores que se transformaram em patrões de media, meios locais que assumiram ambições globais, cadeias nacionais que partiram para o one to one… tudo e o seu contrário. Mais uma vez esquecemos a realidade que é a mesma desde antes de Guttenberg: a notícia, aquela que tem uma história por trás e que nos leva à procura da verdade, que nos forma, informa e nos enforma enquanto sociedade, porque o feedback estimula-se, deveria continuar sempre no centro de qualquer abordagem ao tema. E sempre que procuramos o back to basics, como o mau jogador de futebol, já vamos em esforço, com um treinador encostado à linha a gritar “vamos! Vamos!”. Esta é a imagem de muitas redações…
O terceiro erro, é hoje talvez o mais relevante: pisamos um terreno que julgamos que conhecemos e um tempo que julgamos controlar. Um terreno cheio de alçapões, de universos cruzadas, de meta-realidades. Um tempo em que a credibilidade dos media que ainda é percebida como superior à das redes sociais pode estar perto de um fim, que muitos já antecipam. Infotainment, storytelling, spinning, fact-checking, são hoje termos mais comuns, até para nós, profissionais de comunicação, do que conceitos como, concorde-se ou não com as teorias que os sustentam, newsmaking, agenda setting ou gatekeeper. E quando se ouve, e com frequência, termos como fake news ou fact-checking, o primeiro impulso é sempre lançar um olhar reprovador sobre uma marca jornalística ou um jornalista, proceder a um julgamento sumário, e passar ao próximo. É como se o mensageiro tivesse um lugar cativo no banco dos réus e a mais básica das realidades é sempre esquecida: não é o jornalista que cria a fake-news, são outros interesses que se servem dos jornalistas, que com eles se misturam, que utilizam as mesmas ferramentas e meios. O jornalista existe para informar, até dos seus próprios erros, ancorando-se não na noticia, mas na sua credibilidade, no rigor com que se produz essa notícia. Com profissionalismo, técnicas testadas, autonomia e ética. Não existe para desinformar.
Como se contrói um modelo sustentável?
Do latim sustentāre, o verbo transitivo “sustentar” segundo o dicionário da Porto Editora, o mais usado em Portugal, dá-nos a resposta. Utilizando a transitividade. Um modelo sustentável constrói-se a
1. segurar por baixo, suportar, escorar a boa informação
2. aguentar; amparar a boa informação
3. conservar, manter a boa informação
4. assegurar a subsistência de; alimentar a boa informação
5. dar ânimo a alentar a boa informação
6. impedir a queda ou a ruína da boa informação
7. defender com argumentos a boa informação
8. fundamentar a boa informação
09. confirmar a boa informação
10. prolongar a boa informação
11. resistir a fazer frente à má informação
Vários são os investimentos que tem sido feitos neste sentido. Quase todos eles já depois de soarem alertas ensurdecedores: meios que faliram, níveis de desinformação estratosféricos, redações exauridas, iliteracia mediática enorme… Os impactos, as externalidades negativas, são apontadas, apesar de muitas das vezes não devidamente mensuradas, o que na idade dos dados é indesculpável. E prometem-nos resultados numa geração… o futuro, sempre o futuro… que como ainda não existe pode sempre ser adiado. Mais uma vez.
Se este caminho não satisfaz, porque não qualificar e quantificar devidamente as externalidades positivas geradas pelo jornalismo de qualidade? Passos pequenos que mesmo assim nos permitem construir caminhos, com faseamentos e objetivos bem definidos. Já não basta afastarmo-nos dos obstáculos. Com dados bem definidos, provavelmente voltaremos a olhar com mais confiança, e sem romantismos ou moralismos, para o que é básico dentro da complexidade: factos, histórias, capacidade de produzir bom jornalismo, com jornalistas equipados e foco no recetor, oferecendo-lhe a história e a capacidade de avaliar o valor gerado nessa interação. Sim, a informação tem um custo imediato e um valor a prazo.
A liberdade de expressão não se basta a si própria, o são confronto de visões não se basta a si próprio. É necessária a intervenção regulatória dos poderes públicos nacionais, internacionais e supranacionais, pois este desafio é global. É necessária a emersão de interesses privados, desde que legítimos, neste mercado que não gerará receitas imediatas. É necessário o envolvimento dos mestres desta arte, dos jornalistas e dos outros profissionais do espaço mediático, pois todos dependemos da qualidade do seu trabalho de interesse público. Só com a integração efetiva destes esforços/investimentos conseguiremos efetivamente contribuir para uma sociedade mais informada, mais capaz de intervir sustentadamente, de exigir mudanças e progressos e assim aproximarmo-nos dos 15 objetivos do desenvolvimento sustentável firmados pelas Nações Unidas.